Conheça como é o ambiente de trabalho na sala de controle de missões da NASA!

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Produtividade

Bicicletas ergométricas, iluminação em sincronia com ritmos circadianos e transmissões ao vivo de satélites no espaço… Paul Sean, ex-diretor de Operações de Missões do Centro Espacial da NASA em Houston, Texas, explica como a agência criou um escritório de outro mundo e aderiu à tendência do trabalho flexível

 

Como é a sala de controle de missões da NASA?

Parece um pouco com um call center de emergência ou uma instalação de controle de tráfego aéreo. Tem cerca de 20 mesas com vários monitores de computador, além de uma tela grande na parte da frente da sala exibindo dados resumidos para toda a equipe. Como você já deve ter visto nos filmes, temos vários relógios no alto da parede exibindo diversos dados, desde a hora atual até a hora da próxima cobertura do satélite para a nave espacial. Para quase tudo que fazemos, temos uma contagem regressiva ou contamos quanto tempo passou desde o início da operação.

O que mais surpreende os visitantes?

As pessoas sempre ficam eufóricas quando entram na sala de visualização e veem o mapa enorme na tela central que mostra exatamente onde uma nave espacial está sobre a Terra. Ao lado do mapa, há uma tela grande mostrando vídeos capturados do lado de dentro e de fora da nave. Os visitantes ficam olhando e algum deles sempre diz: “Isto é real? Está acontecendo neste momento?” E a resposta sempre é: “Sim, está acontecendo agora, a 400 km de distância da Terra, do outro lado do mundo.”

A configuração do centro é icônica. Como foi o planejamento para torná-la realidade?

Há 60 anos, quando começamos a nos aventurar no espaço, o lugar em que as pessoas se sentavam era muito importante. As pessoas eram agrupadas de acordo com a área específica em que trabalhavam, pois isso facilitava a comparação de anotações. No ambiente computadorizado de hoje, isso já não é tão importante. Atualmente, basta que os membros de uma equipe estejam na mesma sala ou usem sistemas para se olharem nos olhos virtualmente e trocarem dados de onde estiverem.
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A sala de controle de voo da estação espacial em 1964

 

A equipe tem a opção de trabalhar remotamente ou de maneira flexível?

A tecnologia em evolução possibilita determinado grau de trabalho flexível. Temos sistemas que permitem às pessoas fazerem login e trabalhem de casa. Quando elas não estão pilotando espaçonaves (por exemplo, estão analisando dados ou organizando apresentações), não há motivo para não poderem trabalhar de outro lugar. O centro também começou a permitir que as pessoas trabalhem de casa em algumas sextas-feiras. Incentivamos as pessoas individualmente: se elas conseguissem cumprir 80 horas em 9 dias em vez de 10, então, desde que não tivessem reuniões, poderiam tirar um dia de folga. Isso aumentou a motivação da equipe. Portanto, o trabalho flexível, quando usado de forma sensata, está nos ajudando.

Em que medida as estações de trabalho são ergonômicas?

Correndo o risco de ofender meus predecessores, admito que nos primeiros 40 a 50 anos da nossa existência muitos fatores humanos eram secundários, e o foco estava todo na parte técnica. Não era incomum que as cadeiras e os teclados fossem desconfortáveis. Nos últimos dez anos, aprendemos a levar isso mais a sério. A partir de 2011, mudamos tudo completamente.

Quantas mudanças ocorreram devido ao feedback da equipe?

As mudanças vieram aos poucos. As pessoas não reclamavam muito, pois era o jeito que as coisas sempre tinham sido. Quando a equipe reclamava do assento ou da iluminação, a gerência não os levava muito a sério e dizia: “Tá, tá. Fomos até a lua com essa iluminação. Agora fiquem quietos e façam seu trabalho.”

Mas à medida que os anos passaram, surgiram estudos mostrando a importância da boa ergonomia. Os próprios médicos da NASA nos disseram que havia uma relação direta entre o tipo de iluminação dos locais de trabalho e o humor das pessoas. No geral, descobrimos que era possível melhorar a ergonomia e o local de trabalho sem afetar o custo. As novas mesas para computadores que compramos eram até mais baratas do que os consoles disponibilizados pelo governo que substituímos.

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Paul Sean Hill, ex-diretor de Operações de Missões do Centro Espacial da NASA em Houston, Texas 

 

Geralmente, a equipe da NASA trabalha em turnos de dez horas em um escritório sem janelas. Como seus funcionários se mantêm saudáveis?

Trabalhamos em um prédio enorme e sem janelas para manter os computadores refrigerados, o que implica não ter luz natural. Com isso em mente, analisamos o nível, a cor e o estilo da nossa iluminação artificial. Também a ajustamos para ajudar os funcionários com os ritmos circadianos, melhorando seu sono quando chegam em casa em horários que o corpo humano não foi feito para dormir.

Nossos médicos também recomendam que os funcionários caminhem durante os turnos. Até mesmo uma breve caminhada de dois a cinco minutos a cada hora de trabalho pode ter um efeito positivo considerável na saúde em longo prazo. Também temos uma sala de exercícios na própria sala de controle de missões que conta com algumas bicicletas e esteiras para quem quiser ficar ainda mais ativo no intervalo.

Há um código de vestimenta no escritório?

Sim e não. Sou da velha guarda. Quando eu era diretor de voo, sempre usava gravata. O código de vestimenta ficou mais descontraído nos últimos 20 anos. Agora que temos cobertura 24 horas, não é incomum ver pessoas, principalmente as que trabalham à noite, usando trajes sociais casuais. Mas geralmente não passamos disso. Mantemos em mentes a imagem que projetamos para o mundo lá fora. Queremos que as pessoas saibam que somos profissionais e focados.

Quais são suas principais dicas para um trabalho em equipe eficaz?

Em primeiro lugar, dê a devida importância à interação. Na NASA, incentivamos a interação entre nossas equipes em todos os níveis hierárquicos. É importante que todos se sintam livres para conversar uns com os outros sobre o trabalho, compartilhando conhecimentos e obtendo apoio daqueles que os cercam, seja pessoal ou remotamente.

Em segundo lugar, saiba que é crucial que todos se esforcem para promover a transparência total. Se alguém retiver informações, é sinal de que a equipe tem problemas de confiança. Quando surgia um problema na sala de controle de missões, em qualquer parte da organização, esperávamos que chegasse à alta gerência imediatamente. Talvez pareça que microgerenciávamos tudo, mas isso fazia uma diferença enorme. Nós conseguíamos lidar com os problemas logo que aconteciam, não importando o tamanho deles, e isso significava que éramos capazes de gerenciar a situação com mais eficiência. Como resultado, passávamos metade do tempo em reuniões de gerenciamento, tomando decisões melhores e liderando melhor a organização.

Por último, incentive todos da equipe a compartilhar sugestões de como aprimorar as coisas. Muitas pessoas não reclamam do que não funciona, pois não querem se destacar pelas razões erradas. Aprendemos que ouvir as equipes é a coisa mais valiosa que podemos fazer para o bem da organização e para a saúde e felicidade dos funcionários.

O que os civis podem aprender com a sala de controle de missões?

O maior aprendizado é: tenha cuidado para não continuar fazendo o que sempre fez. Por muito tempo, o fato de termos criado o escritório da maneira que expliquei fez com que usássemos equipamentos muito caros que não eram tão bons quanto poderiam ser. Parece loucura, considerando o que fazemos o dia inteiro, mas demorou muito para trocarmos os computadores e softwares antigos pela tecnologia mais recente. Essa mudança foi a melhor coisa que poderíamos ter feito.

 


O livro Mission Control Management (Gestão do Controle de Missões, em tradução livre), de Paul Sean Hill, foi publicado pela Nicholas Brealey Publishing

Hill falou com o jornalista Etan Smallman, baseado no Reino Unido

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